12/03/2009

A Inocência Conveniente

Infringir as leis tem sido menos arriscado que cumpri-las. Por Sergio Buaiz

O Brasil tem um problema educacional muito sério, não apenas pela falta de acesso à boa cultura, mas principalmente pela falta de acesso a bons valores.

Normalmente, quando um político diz que vai investir em educação, todo mundo pensa em construir e manter escolas, melhorar a capacitação e remuneração dos professores, entre outras coisas, porém “educação” é muito mais do que isso. Ela começa no berço e é lapidada todos os dias, pela convivência familiar e social. A escola é muito importante, mas de pouco adianta a melhor estrutura de ensino, em um contexto desfavorável.

Hoje, até o mais honesto dos brasileiros já se acostumou a conviver com o maldito jeitinho, que virtualmente justifica e corrige todas as pequenas falhas que cometemos no dia-a-dia.

As pessoas já não se preocupam em serem pontuais, porque o atraso “faz parte”. Quando esquecem um compromisso ou deixam de cumprir o que acordaram, “pedem desculpas” (como se fosse obrigação dos outros aceitá-las). E assim nos criamos, como seres acomodados, relapsos e conformistas. O jeitinho não resolve, mas empurra com a barriga, isentando os culpados e aumentando os problemas de quem está em volta.

O pior é que isso nos leva a crer que tudo é permitido, até perdermos o senso dos valores e da responsabilidade que temos pelos próprios atos.

Apesar de todas as comprovações históricas, quase ninguém se dá conta do prejuízo que tudo isso traz em cadeia. Cedo ou tarde, a bomba sempre explode, normalmente na mão de quem não tem culpa direta, mas participa do rolo. São os “inocentes úteis”, que não escolhem andar fora da linha, mas convenientemente também não fazem nada para evitar o pior. Talvez por medo de acabarem pagando a conta sozinhos, se tornam ainda mais vulneráveis, como cúmplices, laranjas ou vítimas do sistema (bodes expiatórios).

Sinceramente, o que podemos chamar de educação, diante de uma sociedade tão corrompida? O que é mais certo? Insistir em ser honesto e educado contra a maré, ou seguir a correnteza e “deixar rolar”, “fazendo o possível”, do jeito que está?

Muito se fala da impunidade em relação à violência, corrupção e outros crimes oficiais, porém volto a afirmar: o grande mal do brasileiro são os pequenos delitos que distorcem o nosso caráter aos poucos.

Como não temos limites e assistimos ao triunfo dos “espertos”, vamos nos acostumando a desafiar levemente todas as regras e leis que nos são impostas, para não ficarmos para trás.

Cheios de cicatrizes morais e cansados de serem penalizados pela correção, até os justos acabam se rendendo, influenciados pelo meio. Tornam-se irresponsáveis por conveniência, pois infringir as leis tem sido menos arriscado que cumpri-las.

Talvez você não cometa nenhum crime oficial, mas o jeitinho está lá enraizado, nos maus hábitos que tem e finge não perceber, por conveniência.

Se eu fosse Presidente, lançaria mão da campanha “Jeitinho Zero”.

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